Pesquisar este blog

segunda-feira, 30 de abril de 2012

PLANEJAMENTO LOCAL



O planejamento local trata-se da aplicação das técnicas de planejamento ao âmbito municipal. Reveste-se, porém, de certas peculiaridades, e diz respeito à ocupação espacial da cidade, bem como da distribuição dos serviços públicos essenciais à população.

Introdução

Planejamento local é a aplicação para subespaços de pequena escala dos métodos e técnicas consagrados na teoria e na prática do planejamento governamental. Por outro lado, estes métodos e técnicas devem ser adaptados e ajustados às concepções contemporâneas de planejamento e de desenvolvimento, incorporando os postulados do planejamento estratégico e do desenvolvimento sustentável.
Isto significa uma visão de longo prazo, abordagem sistêmica, tratamento multidisciplinar, negociação política e participação social.

O que é planejamento?

O planejamento é uma ferramenta de trabalho utilizada para tomar decisões e organizar as ações de forma lógica e racional, de modo a garantir os melhores resultados e a realização dos objetivos de uma sociedade, com os menores custos e prazo possíveis. Ou, o planejamento é o cálculo que precede e preside a ação em um processo permanente de reflexão e análise para escolha de alternativas que permitam alcançar determinados resultados desejados no futuro.

O planejamento representa uma forma de a sociedade exercer o poder sobre o seu futuro, rejeitando a resignação e partindo para iniciativas que definam o seu destino.
Deste ponto de vista, é uma “aposta no futuro”, principal matéria-prima do planejamento, que orienta e molda a vontade dos atores e as decisões coletivas. Parte do princípio que o futuro pode ser construído pela sociedade, mas entende que esta construção do futuro tem raízes na história, no passado recente e na realidade atual, definidora dos limites do possível. Como um instrumento para “fazer o seu destino”, o planejamento é o espaço de construção da liberdade da sociedade dentro das circunstâncias, delimitando o terreno do possível para implementar as mudanças capazes de moldar a realidade futura.

De um modo geral, o planejamento governamental é o processo de construção de um projeto coletivo capaz de implementar as transformações necessárias na realidade que levem ao futuro desejado. Portanto, tem uma forte conotação política. E no que se refere ao desenvolvimento local, o planejamento é um instrumento para a construção de uma proposta convergente dos atores e agentes que organizam as ações na perspectiva do desenvolvimento sustentável.

Processo técnico e político

Como o planejamento envolve decisões e escolhas de alternativas em torno de objetivos coletivos, o cálculo que precede e preside a ação passa por uma negociação e formulação política. Toda escolha coletiva envolve interesses e percepções, especialmente sobre o que se pretende alcançar no futuro, que são diferenciados em qualquer grupo social, particularmente em sociedades complexas e de grande dimensão.

No entanto, o planejamento é também um processo ordenado e sistemático de decisão, o que lhe confere uma conotação técnica e racional de formulação e suporte para as escolhas da sociedade. Desta forma, o planejamento incorpora e combina uma dimensão política e uma dimensão técnica, constituindo uma síntese técnico-política.

Técnico, porque ordenado e sistemático e porque deve utilizar instrumentos de organização, sistematização e hierarquização da realidade e das variáveis do processo, e um esforço de produção e organização de informações sobre o objeto e os instrumentos de intervenção. Político porque toda decisão e definição de objetivos passam por interesses e negociações entre atores sociais

Planejar é basicamente se preparar para a adoção de decisão. As decisões de alguma importância se baseiam no poder. Assim, o planejamento é parte do exercício do poder na sociedade.

Como os objetivos e interesses sociais são muito diferenciados, e muitas vezes conflitantes na sociedade, as decisões tomadas no processo de planejamento resultam de uma disputa política dos atores, cada um procurando influenciar no projeto coletivo com suas próprias expectativas em relação ao futuro e com os meios e instrumento de poder. Toda escolha coletiva que envolve vários atores com diferentes interesses, mas também distintas posições de poder, sempre deverá expressar uma relação e uma estrutura de poder, cada grupo social procurando dominar os espaços e meios de decisão e intervenção na realidade.

Refletindo e reproduzindo uma determinada estrutura de poder na organização da sociedade, as decisões geradas no planejamento expressam uma vontade dominante ou uma hegemonia, entendida não como a simples imposição dos interesses de algum ator sobre os outros, mas como a expressão e síntese do jogo de cooperação e conflito dos atores, com seus poderes e interesses diversificados.

Por outro lado, como parte do processo político, o planejamento constitui um espaço privilegiado de negociação entre os atores sociais, confrontando e articulando seus interesses e suas alternativas para a sociedade. Como a hegemonia não é um dado estático, mas um fato social dinâmico e construído, o planejamento abre a oportunidade para uma reconstrução e reordenação do jogo de poder, permitindo uma redefinição dos objetivos dominantes na sociedade. Em última instância, o processo de planejamento cria as condições para a (re)construção da hegemonia, na medida em que articula, técnica e politicamente, os atores sociais para escolhas e opções sociais.

Esta concepção do planejamento como técnico e político, ao mesmo tempo, deve levar a uma reformulação profunda da posição dos técnicos na definição das prioridades do desenvolvimento e à necessidade de uma estrutura de participação e mobilização da sociedade para a tomada das decisões, orientadas pela reflexão técnica. Apenas assim, o planejamento pode construir um projeto coletivo reconhecido pela sociedade e em torno do qual os atores sociais e os agentes públicos estejam efetivamente comprometidos.

Visão estratégica

Para desatar um processo de transformações que leve ao desenvolvimento sustentável da comunidade ou município, é necessário um claro esforço de seletividade para concentrar as ações nos fatores centrais e determinantes do futuro. Desta forma, o planejamento deve assumir uma visão estratégica: não se deixa dominar pelas emergências e urgências de curto prazo e estrutura as prioridades numa perspectiva de construção de um novo estilo de desenvolvimento no médio e longo prazo. Não pode ignorar as necessidades e carências da sociedade, mas deve estabelecer a relação destas com os fatores estruturais do desenvolvimento, evitando o imediatismo e a corrida sem fim atrás dos problemas.

Para tanto, é necessário identificar, na análise da realidade, os fatores e os componentes mais relevantes e determinantes dos problemas e potencialidades que condicionam o futuro. Muitas vezes os problemas mais urgentes e indesejáveis não são os mais importantes e relevantes em termos de determinação do desempenho geral da realidade. Desta forma, é fundamental classificar e ordenar os dados da realidade, distinguindo o urgente – indesejável e necessidade imediata – do importante – relevante e determinante do desenvolvimento local: as ações estratégicas concentram-se no que é relevante e determinante, preparando as transformações estruturais futuras; iniciativas de curto prazo e de rotina voltam-se para as urgências, procurando moderar e amenizar os problemas, enquanto amadurecem as transformações estruturais resultantes das ações sobre o importante.

Os problemas que têm alto grau de importância e pouca urgência (Q-I) podem, portanto, ser enfrentados com tranquilidade, para preparar o futuro. As ações estratégicas devem ser concentradas nestes problemas, criando as bases para a reestruturação socioeconômica da realidade e evitando o acúmulo e a formação de novos problemas e urgências no futuro.

Os problemas que têm alto grau de importância e alta urgência (Q-II) refletem, no geral, a falta de uma iniciativa no passado em problemas do Q-I que se tornaram mais graves e inadiáveis. As ações se voltam para a administração de crise herdada do passado, merecendo, portanto, uma ação imediata e prioritária, para evitar o estrangulamento de curto prazo e os desdobramentos de médio e longo prazo.

Os problemas que têm baixo grau de importância e baixa urgência (Q-III) podem ser ignorados na definição das prioridades de ação, para não gastar energias atuando sobre o excessivo.

Finalmente, os problemas que têm baixa importância e alta urgência (Q-IV), representam fatores indesejáveis e graves da perspectiva da sociedade local, mas que são resultantes de outros problemas e, portanto, não são estruturais e determinantes do desempenho futuro da realidade. Decorrem, em geral, de distorções estruturais do modelo de desenvolvimento e do acúmulo de problemas formados pela ausência de ações estratégicas no passado que promovessem o desenvolvimento sustentável. De qualquer forma, estes problemas demandam iniciativas imediatas, de forma compensatória e transitória, correndo atrás do prejuízo, enquanto amadurecem as transformações resultantes da intervenção sobre o Q-I e o Q-II.

A visão estratégica no planejamento do desenvolvimento local sustentável deve, portanto, organizar as ações de forma a desatar um processo de transformações na direção do novo estilo de desenvolvimento, preparando o médio e o longo prazo. Assim, as prioridades estratégicas devem se concentrar nos problemas de alta importância e menor urgência. E, embora não se trate de ignorar os problemas urgentes, os atores sociais devem ter claro que as iniciativas voltadas para as urgências não seriam necessárias se tivessem implementado ações estruturadoras no passado. Desta forma, é fundamental atuar seletivamente sobre os problemas de alta importância, para reduzir a continuada corrida atrás das urgências e necessidades imediatas.

O planejamento local é o processo de decisão – tecnicamente fundamentada e politicamente sustentada – sobre as ações necessárias e adequadas à promoção do desenvolvimento sustentável em pequenas unidades político-administrativas.

O processo de planejamento local deve desatar processos endógenos singulares de mobilização das energias sociais, dentro das condições internas – potencialidades e estrangulamentos – e externas – oportunidades e ameaças – que promovam o desenvolvimento sustentável do município ou comunidade.

Pela reduzida escala territorial e populacional, o planejamento local tende a ter uma grande proximidade do cidadão e seus problemas e uma grande aderência aos instrumentos institucionais de gestão e intervenção, embora possa não conter toda a complexidade socioambiental, segmentando unidades ecossistêmicas ou socioeconômicas homogêneas (bacias, biomas, Estados ou microrregiões homogêneas). Esta proximidade dos problemas e do cidadão permite que o planejamento local tenha amplos mecanismos de participação da população e dos atores sociais, comprometendo a sociedade com as decisões e com as iniciativas e prioridades, viabilizando, portanto, a mobilização das energias da sociedade.

O corte municipal e comunitário (incluindo assentamentos da reforma agrária) pode e deve, contudo, ser complementado e ajustado a uma interação com seu entorno, formando unidades integradas de municípios com afinidades e homogeneidade, articulando, politicamente, mais de um município em um aglomerado socioeconômico e ambiental. Ao mesmo tempo, o município pode desagregar macroespaços diversificados e heterogêneos nas unidades de maior confluência, representando escalas intermediárias de planejamento e intervenção.

O planejamento do desenvolvimento local, nas diversas escalas de pequena dimensão territorial e populacional, representa realidades socioambientais menos complexas e com maior grau de homogeneidade, especialmente no que se refere à estrutura dos atores sociais. Os assentamentos de reforma agrária tendem a reunir uma população com grande homogeneidade social e cultural em espaços restritos que costumam apresentar também um perfil ecológico uniforme, reduzindo os conflitos de interesse e as complexidades técnicas. Em compensação, não costumam contar com unidades político-administrativas próprias como instâncias do Estado, como a municipalidade no âmbito dos municípios.

A inserção e a interação com o contexto constituem uma determinante do desenvolvimento do assentamento e, por outro lado, uma orientação estratégica do planejamento local, procurando potencializar a sua articulação com a dinâmica municipal. O assentamento recebe influências positivas e negativas externas e, ao mesmo tempo, pode e deve contribuir para o desenvolvimento do município em que está localizado, destacando-se como dinamizador da base econômica municipal.

A interação dos dois processos – planejamento dos assentamentos e planejamento municipal – é o primeiro e fundamental passo para viabilizar uma convergência das prioridades do município com as necessidades e demandas da população assentada.

Para assegurar a integração, é importante que o processo de elaboração do Plano Municipal incorpore os assentamentos entre as suas prioridades e potencialidades, definindo, entre outras coisas, as áreas adequadas para os assentamentos e os mecanismos e instrumentos de municipalização dos assentamentos, situando-os dentro da dinâmica econômica e social do município. O plano de desenvolvimento do assentamento seria incorporado como um detalhamento espacial (local) do plano de desenvolvimento municipal.

Para que serve o planejamento?

O planejamento é um instrumento de grande utilidade para a organização da ação dos atores e agentes, orientando as iniciativas e gerando uma convergência e articulação das diversas formas de intervenção na realidade. Desta forma, o planejamento contribui para a mobilização das energias sociais e constitui uma referência para a implementação das ações que podem desatar o processo de transformação na direção e objetivos definidos pela sociedade, que leva ao desenvolvimento sustentável.

O planejamento é fundamental também para sistematizar e conferir racionalidade e interação lógica às ações e atividades diversificadas no tempo, aumentando a eficácia e eficiência das ações e seus impactos positivos na realidade. Representa uma forma de controle sobre o futuro e de fundamentação das escolhas e prioridades, para aperfeiçoar as forças, mecanismos e recursos escassos da sociedade, evitando os desperdícios e a improvisação.

O planejamento local e os planos de desenvolvimento são, antes de tudo, um instrumento de negociação com os parceiros potenciais – tanto na fase de elaboração quanto após a produção do documento-síntese – e de aglutinação política dos atores, na medida em que expressa, de forma técnica e organizada, o conjunto das decisões e compromissos sociais. Além disso, o planejamento e os planos de desenvolvimento conferem transparência às opções e decisões tomadas pela comunidade, explicitando os objetivos e as prioridades.

Como se faz planejamento?

O processo de planejamento deve se estruturar em um conjunto de atividades de forma articulada e organizada, seguindo uma sequencia lógica que assegure racionalidade e participação da sociedade no processo decisório. Esta sequencia de atividades deve, por um lado, combinar o processo técnico e a negociação política, e, por outro, integrar a forma ascendente e descendente de análise e formulação de prioridades. De forma esquemática, procura-se apresentar o processo de trabalho para o planejamento do desenvolvimento local.

Visão geral do processo

A lógica do trabalho de planejamento apresenta-se com dois cortes analíticos complementares: o primeiro procura diferenciar e articular o caráter técnico e político das formulações e escolhas de caminhos para o desenvolvimento local; e o segundo expressa a forma de observação da realidade e os fluxos de informação e decisão geral e particular, que asseguram a racionalidade das decisões.

·      Processo técnico e negociação política

O processo de trabalho deve articular e combinar, desde o início, o tratamento e a análise técnica com as formulações, negociações e deliberações política, com suas lógicas diferenciadas – confrontando a racionalidade e os interesses. Estas duas abordagens da realidade e das alternativas de ação para o desenvolvimento local devem ser implementadas ao mesmo tempo e de forma paralela, e procurando articular e confrontar as percepções. A lógica técnica serve para estabelecer os limites e as possibilidades efetivas de desenvolvimento e as viabilidades e impactos das ações, contribuindo para as decisões e escolhas, que, por seu turno, obedecem aos interesses dos atores e às visões políticas. O processo técnico e o político seguem linhas diferentes, mas articuladas e convergentes na definição das ações – viáveis, necessárias e adequadas para a promoção do desenvolvimento –, num ciclo de retroalimentação e aproximações sucessivas.

Esta visão correspondente ao princípio do Diagnóstico Rápido Participativo, segundo o qual, para se obter informações mais próximas da realidade, é necessário fazer interagir produtores e técnicos, num processo de comunicação racionalmente construído para tal fim

·      Processo descendente e ascendente

O processo de planejamento deve contemplar duas abordagens diferentes e relativamente autônomas que, não obstante, se combinam e se confrontam para construir uma percepção e prioridades consistentes.

O processo combina uma abordagem agregada e integrada do objeto, vista na sua globalidade, com um tratamento desagregado por grandes dimensões e setores, na sua particularidade. A primeira permite visualizar o município ou assentamento na sua totalidade e na sua relação com o contexto (sistema que o contém), e gerar os elementos para a formulação das opções estratégicas, como a direção geral e as iniciativas globais para o desenvolvimento.

O tratamento desagregado, por outro lado, permite tratar com maior profundidade e detalhes as diversas partes ou segmentos relevantes constitutivos da realidade (subsistemas)– assegurando um tratamento equilibrado das diversas dimensões em que se desagrega o sistema-objeto – e levar à formulação de propostas de ações específicas e concretas para as diferentes dimensões, setores ou áreas prioritárias.

Estes dois cortes da realidade devem ser realizados tanto no processo técnico quanto na participação e negociação política dos atores sociais, embora esta última seja mais destacada e concentrada na formulação desagregada, expressando as demandas e os projetos da sociedade a serem incorporados na estratégia.

As duas abordagens devem correr de forma paralela e obedecem a dinâmicas e lógicas diferentes de interpretação e formulação de ações. No entanto, os planos de desenvolvimento do município e do assentamento devem resultar da interação e do confronto entre a abordagem geral e agregada, por um lado, e o tratamento específico e por dimensão, por outro. Esta interação combina um processo descendente ou indutivo – a partir do qual as grandes opções oferecem parâmetros gerais para a definição de programas e projetos – e um processo ascendente ou dedutivo – segundo o qual as prioridades por dimensão ou segmento (tanto as formuladas tecnicamente quanto as decorrentes das demandas e reivindicações da sociedade) definem os elementos constitutivos da estratégia de desenvolvimento local.

O processo de planejamento se divide em quatro etapas sequenciais, interligadas e continuadas: o conhecimento da realidade, a tomada de decisão, a execução do plano e, finalmente, o acompanhamento, controle e avaliação das ações. Este é, contudo, um processo permanente de construção e decisão; de modo que, mesmo que apresente esta sequencia inicial – conhecimento, decisão, execução e acompanhamento –, o ciclo é continuado, com o acompanhamento reorientando o conhecimento e as decisões e, portanto, podendo redefinir a execução. Por outro lado, nas quatro etapas do processo de planejamento, devem ser combinados os tratamentos técnicos e políticos e as abordagens ascendentes e descendentes referidas anteriormente.

As duas primeiras etapas do processo de planejamento – conhecimento e tomada de decisão – constituem a fase de elaboração propriamente dita dos planos de desenvolvimento local, que definem o que será executado e organizam o acompanhamento. Na realidade, um dos componentes centrais do plano que será, portanto, produzido nestas duas etapas será a formulação de um modelo de gestão, que representa o sistema de organização da sociedade e dos agentes públicos para as duas etapas seguintes: a execução e o acompanhamento do plano.

A metodologia de planejamento, apresentada neste documento, concentra-se na fase de elaboração dos planos, reunindo, portanto, as etapas de conhecimento e tomada de decisão. Desta forma, não contempla a etapa de execução e de acompanhamento, entendendo que a definição sobre a forma e os mecanismos a serem utilizados nestas duas constitui um dos produtos do planejamento e, portanto, uma decisão dos atores que planejam, contida no modelo de gestão. Como o modelo de gestão deve corresponder às prioridades de ações e aos pressupostos políticos definidos pela sociedade – na fase de elaboração – constitui um resultado das duas primeiras etapas do processo de planejamento: os atores definem a forma em que devem se organizar para a execução e acompanhamento do plano.

A fase de elaboração do plano – etapa de conhecimento e decisão – deve seguir também uma sequencia lógica de atividades, seguindo uma ordem de tratamento e produção de informações e conhecimentos que estruturam as escolhas da sociedade. Para a realização destas atividades, pode-se recorrer a um conjunto de técnicas e recursos (instrumentos) facilitadores e organizadores dos procedimentos técnicos e da negociação dos atores sociais. Do ponto de vista operacional, o processo deve começar com a estruturação dos trabalhos, incluindo montagem da equipe técnica e do sistema de organização dos agentes e atores.

sábado, 21 de abril de 2012

AMBIÊNCIA URBANA



Ambiência seria o espaço arquitetonicamente organizado e animado que constitui um meio físico e, ao mesmo tempo, meio estético ou psicológico, especialmente preparado para o exercício de atividades humanas.

Introdução

O homem é um ser vivo inigualável e difere dos demais seres, pois além de sua inteligência, se diferencia pela sua capacidade de adaptação e transformação da paisagem, visando sua habitabilidade ideal. O habitat humano é à base de todas as transformações políticas, sociais e culturais da humanidade. É nas cidades que a maioria de nós convivemos, trabalhamos e nos relacionamos. 

Além disto, o habitat é um direito essencial do homem moderno e uma necessidade básica universal desde a antiguidade.

Observa-se que a relação entre sociedade, cidades, meio ambiente e desenvolvimento vem se modificando ininterruptamente desde 12000 a.C. tendendo a um nível de consumo energético de alta entropia.  Este texto visa fazer essa sucinta e breve abordagem a respeito da temática do uso de energias renováveis na arquitetura e urbanismo na história das cidades.

As diferenças geográficas, de clima, de espécies de animais e plantas domesticáveis, bem como de doenças transmissíveis, foram variáveis definidoras para a expansão ocidental em algumas faixas de terra do globo. Parte das inovações tecnológicas europeias, ao invés de terem sido inventadas localmente, foi fruto justamente desses contatos com outras sociedades, o que reforça a ideia de que o ambiente natural interfere no desenvolvimento das sociedades. Esses desdobramentos e ritmos diferentes de desenvolvimento viriam a culminar posteriormente, em grandes impérios, cidades e reinados ao longo da história, ampliando o fosso de desigualdades sociais e econômicas entre as regiões e continentes, alimentados pelo colonialismo a partir de 1500.

Os ambientes urbanos sempre acompanharam o cenário econômico e político assim como absorveram suas mazelas, deseconomias, desequilíbrios e externalidades, com impactos insalubres direto na vida de seus habitantes, principalmente os suburbanos menos abastados. As cidades passaram rapidamente de locais de peregrinação, embriões da sociedade, a símbolo de desenvolvimento e progresso, das artes, democracia, poderio bélico, riqueza e de centro organizador da sociedade, para o cerne da crise humana e ambiental que afeta o planeta. Isto vem gerando miséria, segregação urbana e degradação da vida da maioria de seus cidadãos, associada à violência, consumo excessivo de energia, criminalidade, disputas por terra, doenças e poluição ambiental.

Passamos de um urbanismo “suportável e problemático” para um urbanismo “caótico, segregador e explosivo” com produtos e serviços de alta entropia. É a cidade materializando o atual modelo economicista de desenvolvimento. Uma economia de cunho financeirista e de alta volatilidade, que vem gerando crises cíclicas.

Nossas “urbes” passaram do status de berço da antiguidade clássica, até o atual modelo de desenvolvimento capitalista, sendo hoje o habitat da maioria da população e o principal consumidor de energia global. Desde a pré-história, até os dias atuais, o ser humano cria novas condições de habitabilidade, modificando o ambiente construído, natural e geográfico e as relações sociais e políticas.
A história da humanidade demonstra que nem sempre a interferência humana na paisagem foi marcada por degradação ambiental e insalubridades. Se antes os impactos eram circunscritos a determinadas regiões, atualmente com a urbanização acelerada e com a “mundialização” da economia, esses impactos ambientais adquirem escala global, sendo muito mais nefasto seu dano ao planeta. Da mesma forma, caso fossem adotadas medidas de “baixa entropia” como faziam nosso antepassados, os benefícios também seriam globais, dada à dimensão e porte das atuais cidades. A energia e o clima são indispensáveis para a vida na Terra. É elemento vital para os seres vivos e suas relações, entre eles o homem. A energia é a força motriz da biosfera, responsável pela diversidade natural e climática do planeta. Sendo o sol o grande gerador, que despeja diariamente grande intensidade de energia sobre a terra, movendo massas de ar, alterando o ciclo hidrológico, biológico e as temperaturas e umidades em diferentes regiões do mundo. Essas alterações formam o que chamamos de clima e suas subdivisões (microclimas) determinando a variedade atmosférica de várias regiões do planeta.

O clima é responsável pela variação das paisagens e pela diversidade biológica e endêmica da terra. É responsável também pelas diversidades urbanas. Em todo o mundo encontramos exemplos dessa milenar e sustentável harmonia entre homem, natureza, arquitetura e clima. A consonância entre habitat e meio ambiente sempre ajudou o homem ao longo da história a refugiar-se contra a inconstância do meio climático, geográfico e natural e a tirar benefícios desta harmonia, sem maiores prejuízos ecológicos. Harmonia hoje chamada de sustentabilidade.

Quanto à relação entre clima, homem e meio ambiente, Josué de Castro cita:

“[...] Um dos grandes recursos técnicos de que o homem lançou mão para fugir da ação intempestiva da metereologia ambiente é exatamente a habitação. Resulta disto que cada grupo humano procura construir o seu tipo de casa até certo ponto como dispositivo especialmente apto a neutralizar as condições desfavoráveis do clima sem prejudicar a natureza [...].”

Isso é particularmente verdadeiro, pois o ser humano enquanto ser homeotérmico necessita manter sua temperatura constante por volta dos 37ºC. Alterações climáticas bruscas com grandes variações de temperatura tende ao colapso do organismo e por consequência a morte humana. Essa necessidade térmica, associada a influencia climático-ambiental, originou vestimentas humanas e espaços construídos diferenciados em várias partes do mundo.

Vários são os exemplos sustentáveis na história do ambiente construído. Este trabalho faz um sucinto panorâmico a respeito destes exemplares na história urbano-arquitetônica e tenta explicar como o uso da energia passiva do clima foi utilizada.

Desenvolvimento, homem e natureza

A relação entre sociedade e natureza vem se modificando ininterruptamente aos longos dos tempos. É visível que o tratamento da relação homem versus meio ambiente depende de certa forma do estágio socioeconômico e tecnológico alcançado por determinada sociedade.

A natureza é uma das variáveis definidoras dos estágios socioeconômicos e tecnológicos alcançados. O homem deixa de ser nômade e passa a intervir na natureza, produzindo o sistema de plantio e colheita. A invenção da agricultura, associada à domesticação de animais, produziu uma nova relação social entre os homens.  A apropriação do território gerou interesses entre os grupos por localidades com melhores condições climáticas para o plantio e escoamento da produção. O homem deixa suas “tendas nômades” e parte para “abrigos” mais estáveis, utilizando a energia passiva do clima e as matérias primas locais. Técnicas ambientais e de geotecnia permitiram armazenar alimentos, abrir poços de água e criar sistemas de drenagem e de abastecimento de água, o que prenunciou o início de um protourbanismo que aproveitava as características climáticas e biogeográficas.

Antes dos aglomerados urbanos existiam as cidades cemitérios (necrópole) que eram ponto de peregrinação. Com o surgimento da agricultura, e a necessidade de fixação no território, surgem os adensamentos tribais que dão origem aos templos e santuários (acrópoles). Neste ambiente de excedentes energéticos o homem se amplia sua prole. A atividade comercial, as relações econômicas, espaciais e sociais ganham outra feição. A natureza, o clima e a topografia definem, de certa forma, o estágio e a vida social e política modificando as relações de poder entre os homens. Neste ambiente, metais como o bronze produzido no Egito e na Mesopotâmia e o ferro na Península Ibérica possibilitaram a supremacia de povos contra outros, através da confecção de armas. O poderio armamentista, a escrita e a agricultura local, culminaram na especialização dos trabalhos. A complexidade dessas relações contribuiu para gerar os primeiros núcleos pré-urbanos, que originariam vilas e cidades fortificadas. Continentes não europeus, como os impérios inca e asteca nas Américas, abrigavam milhares de pessoas e eram muito maiores que as cidades da Europa da época. No caso dos povos da Europa e da
Ásia estes desenvolveram aptidões excepcionais, com a criação de exércitos especializados que portavam utensílios de ferro e aço, o que permitiu através da força bélica espalharem-se pelos demais continentes. Povos que não tinham essas vantagens permaneceram tribais. Esses acontecimentos geraram patamares desiguais de tecnologia e organização política entre e sintetiza este raciocínio da seguinte forma: “[...] Impérios com ferramentas de ferro, escrita e tecnologia conquistaram ou exterminaram tribos com ferramentas de pedra [...]”. As vantagens comparativas e algumas particularidades patológicas endêmicas, tecnológicas e militares, decorrentes de potencialidade ambientais locais (metais, animais e plantas domesticadas, epidemias e doenças). Esses condicionantes revolucionaram a agricultura e o transporte, bem como a guerra e a economia. Vantagens de organização política, excedentes de alimentos e de recursos naturais permitiram maior dedicação na criação e disseminação de novas tecnologias, entre elas as bélicas. A produção de excedentes de alimentos e o intercâmbio tecnológico entre as sociedades europeias contribuíram para um poderio armamentista e marítimo de algumas sociedades. Poder este que perdura até os dias atuais e que ainda geram guerras entre povos.

Condicionantes geográficas, ambientais, econômicas, culturais e sociais acabaram com os padrões diferenciados de desenvolvimento dos povos. No entanto, explicações de uma “etnoclimatologia” cheia de determinismos biológicos ou raciais tentam, sem êxito, explicar de forma pouco ética e científica essa rica heterogeneidade humana. As situações do mundo real quase sempre incluem componentes ambientais, sociais e políticos que não se segregam, caso se busque investigar problemas de forma crítica. A análise de qualquer fenômeno deve restabelecer “elos partidos” que vieram a ser dominantes após a revolução industrial. Neste sentido, faz-se imprescindível buscar a análise histórica buscando a gênese do problema. Como nasce à problemática, como se dá sua trajetória histórica, suas rupturas e contradições, bem como sua articulação com outros domínios do mundo real. Daí surgiu a ideia de que o pesquisador não pode reduzir tudo ao fato social ou a abordagem técnica, pois esses domínios se complementam e não explicam isoladamente um dado problema, pois a análise dos fatos deve ser sistêmica. Neste âmbito, os componentes ambientais e energéticos e suas interações devem ser considerados dentro do contexto investigativo dos fenômenos. Nesse sentido, diz que o real também é abstrato, tudo nasce, cresce, chega ao ápice, declina e padece, sendo, portanto, passível de ser compreendido a partir de uma abordagem evolucionária. Essa concepção cíclica e evolucionista é a base da teoria de Darwin, que considera como mola propulsora da evolução a adaptação dos seres vivos ao meio ambiente como derivação do efeito combinado da seleção natural entre espécies e mutações aleatórias relacionadas com o ambiente geográfico e o clima. Cada ser ou grupo de indivíduos evolui dentro de sua trajetória, pois o ambiente é o fator definidor dessas diferenças.

A visão evolucionista seria transferida de forma simplista para o conceito de desenvolvimento da economia clássica. A economia deveria ser livre através da “teoria da mão invisível” e o mercado teria a função de regular o desenvolvimento econômico das nações e satisfazer as necessidades de produtos e serviços das pessoas. Esta visão liberal e “utilitarista” da economia reduziria esta ciência a um sistema fechado, sem relação direta com os ecossistemas naturais, e isto influenciaria a morfologia e o urbanismo das cidades modernas, pois as cidades seriam moldadas pela necessidade do sistema capitalista e não pela sua vocação biogeográfica e climática. Esta visão perdura até os dias atuais, pois a economia neoclássica é concebida no indivíduo, dito racional que busca sempre maximizar suas utilidades, através do equilíbrio da relação oferta-demanda, sem se preocupar se esta maximização terá impactos sobre o ambiente natural ou social.

Os neoclássicos desenvolveram diversas correntes econômicas que tentavam explicar o desenvolvimento. Todas reduzem o mundo real a matemáticos, com dinâmicas de crescimento econômico de curto prazo, negando a componente natural e energética destes cenários. No entanto, contrariamente a esta visão reducionista, um economista utilizando-se dos conceitos da 1ª lei da termodinâmica, defendeu que o desenvolvimento econômico se alimenta dos recursos naturais transformando-os em produtos e serviços. A quantidade de energia utilizada no processo econômico dispersa outra quantidade de energia não disponível para a realização destas atividades. Parte desta energia toma a forma de poluição que degrada e ameaça o meio ambiente natural e urbano diminuindo a capacidade de resiliência e autorregeneração da natureza. Por fim, concluíram que a economia, e, portanto, o desenvolvimento, deve ser alimentado por processos de baixa entropia, e que a economia não é um processo fechado que alimenta a si mesma, mas sim aberto, que tem perdas energéticas consideráveis transformadas em rejeitos que não podem mais ser utilizados no processo de desenvolvimento. A solução é um modelo de desenvolvimento baseado em fonte renováveis e limpas, de alto poder energético e de baixa entropia. Em um ambiente de escassez dos recursos naturais, a sociedade precisará aprender a se desenvolver decrescendo, e as cidades devem ampliar sua eficiência no uso de recursos.

Conclusão

O futuro sustentável só será conseguido com a redução do consumo de energia das cidades e com a mudança da atual concepção economicista-consumista de mundo por seus habitantes.

Para isto, devemos reavaliar a dimensão espacial do processo de desenvolvimento em busca da “ecoeficiência” das cidades, proporcionando conforto ao homem e preservação ao meio ambiente. Neste contexto, deverá ser dada ênfase ao planejamento urbano sustentável, com especial destaque para ambiente construído enquanto célula da cidade, responsável por grande parte da poluição e desperdício energético do planeta. Não adianta programar tecnologias, conforme preconizado pelos economistas ambientais, sem uma mudança de valor por parte dos consumidores. Além do mais o atual paradigma consumidor é incompatível com a necessidade de poupança de recursos naturais, são realidades opostas. Como mudar os hábitos de um cidadão perdulário, se ele vive em um ambiente onde o apelo midiático visa o consumo inesgotável de recursos energéticos e materiais. Diante deste panorama, observa-se que a dimensão ecológica do ambiente é a variável que mais poderá contribuir para a sustentabilidade.

Na medida em que suas soluções aliam: redução da poluição do meio ambiente e do consumo energético das cidades e suas edificações, economia de recursos naturais e financeiros e conforto ambiental para usuários. Isto pode ser conseguido, em parte a partir do uso de estratégias de captação de energias passivas e renováveis para as edificações, como foi abordado. Soluções estas baseadas no potencial climático, cultural e ecológico local, secularmente utilizado da Mesopotâmia até os dias atuais com ações sustentáveis que tendem a uma nova modalidade de planejamento dito “Sustentável” formatando uma possível “City Green” o que conferirá o seu caráter de sustentabilidade urbana. Além de contribuir para o fortalecimento da identidade cultural de uma arquitetura e urbanismo regional adaptada ao seu meio natural, poupadora de energia e confortavelmente agradável para seus usuários. Estas estratégias são viáveis em todos os países.

Nações como o Brasil que dispõem de climas tropicais favoráveis à implementação destas soluções, confirmam sua vocação de nação energética sustentável, já vista em outros setores como o do biocombustível ou mesmo da energia renovável. Principalmente, em climas tropicais que apresenta grande potencial de desenvolvimento de estratégias sustentáveis para  as cidades reduzindo o grau entrópico. No entanto, contrariamente a este grande potencial subexplorado, o que se observa é a proliferação e de cidades cada vez mais consumidoras de recursos energéticos para garantir seu funcionamento e suas condições de funcionamento. Diminuição de áreas verdes e proliferação de arquiteturas energívoras. Isto se deve à falta de conhecimento do clima local por parte dos projetistas, aliado à utilização de padrões “internacionalizados” baseados em uma visão compartimentada, neoclássica, reducionista, de curto prazo e incompatíveis com nossa realidade climática e cultural.

Mesmo filósofos que diziam que “antes de dominar a natureza é necessário obedecê-la, e para isto faz-se necessário conhecê-la a fundo”. Enfim, estudar os fluxo de energia das cidades, associados a geografia, as potencialidade climáticas, e aos aspectos culturais é algo que pouco estudiosos se debruçam. Este texto tentou demonstrar sob uma abordagem geral esta necessidade da bioclimatologia urbana e do conforto ambiental. Não adianta apenas repotencializar usinas, ampliar a tecnologia ambiental, promover a eficiência energética de máquinas e processos, buscar novos combustíveis, ou injetar gás carbônico no solo, se o usuário final usará esta energia de forma “insustentável”. É necessário mudar o atual paradigma economicista e buscar a baixa entropia. É necessário mudar a mentalidade humana.

domingo, 8 de abril de 2012

GRUAS



A grua é um equipamento utilizado para a elevação e a movimentação de cargas e materiais pesados

Introdução

Grua, também popularmente conhecida como guindaste ou guincho, é uma máquina usada para erguer e carregar materiais pesados, é equipada com cabos e roldanas que é usada para levantar e baixar materiais, sendo utilizada habitualmente nas indústrias da construção civil e do fabrico de equipamento pesado.

A grua faz parte do grupo de equipamentos indispensáveis para uma obra bem estruturada. Além da capacidade de transportar grandes quantidades de carga com segurança e velocidade, as gruas se destacam pelo emprego de peças pré-montadas de grande porte que facilitam a sua montagem e desmontagem, ocupando um espaço menor no canteiro de obras.

Pelo aumento de velocidade e produtividade no transporte de materiais, o uso da grua pode ser uma medida economicamente correta.

A grua num canteiro de obra

Uma frase, muito comum no pensamento de alguns construtores, resume bem como a grua é vista por boa parte do setor: "Não uso porque não tenho verba para isso".

Equipamento símbolo de obras grandiosas com orçamentos generosos, as gruas acabaram não se disseminando mais justamente pela imagem que possuem. Dissociaram-se de obras pequenas e médias, em que, supostamente, não há recursos financeiros para esse tipo de "extravagância".

Excluir sumariamente as gruas, porém, pode ser uma medida antieconômica. E, para se saber exatamente quais os ganhos e perdas decorrentes do uso de gruas, é necessário realizar um correto cálculo do uso do equipamento. Vê-se engenheiro de construtora grande dizer que comparou a grua com o custo de uma bomba que levasse concreto ao último pavimento, mas independente do resultado que ele obteve, o cálculo foi equivocado por não considerar que a grua serve para transportar outras coisas além do concreto.

A melhor forma de saber se a grua é ou não viável em uma determinada obra é elaborando, antes de a construção começar, um projeto de canteiro que inclua logística, transportes internos, pontos de recebimento de materiais e acessos à obra. Com isso em mãos, o construtor tem condições de saber o que a grua movimentaria e fazer um comparativo de produtividade, perda de materiais e velocidade de execução.

Também é importante analisar cada canteiro como algo único, evitando generalizações, como uma muito corrente no setor que considera que uma grua substitui 12 trabalhadores enquanto estiver operando. Índices como esse não devem ser aplicados sem que se baseiem nas condições reais do canteiro, dependendo do caso, esse número pode ser muito maior ou muito menor.

Além das questões financeiras e gerenciais, há aspectos técnicos que podem ser determinantes na escolha do meio de transporte vertical da obra. Por exemplo: se o projeto prevê a adoção de componentes pesados como painéis, estruturas pré-moldadas ou banheiro pronto, as gruas são obrigatórias. No sentido oposto, a indisponibilidade desses equipamentos na região pode levar à escolha de outros sistemas.

Tipos de grua 

·      Ascensional

®  Características

Instalada no interior do prédio, passa por janelas abertas nas lajes ou pelo poço do elevador. No primeiro caso, pode ser necessário executar elementos que transfiram essa carga extra para os pilares. Normalmente, a grua ascensional tem torre de 6 a 12 m e fica presa em cerca de dois pavimentos abaixo do último pronto. Para desmontar, é recomendável que se "deite" a lança sobre uma laje sem obstáculos após a retirada da torre.

®  Vantagens

Como necessita de menos peças que uma grua de torre fixa, o custo médio torna-se menor. O posicionamento central na edificação permite um raio de ação global, principalmente em empreendimentos com apenas uma torre. Além disso, serve-se da própria fundação do edifício.

®  Desvantagens

Se o canteiro não for bem planejado, o elevador pode ser entregue sem que a grua tenha sido desmontada. Outra questão é o tamanho da lança. Uma grua ascensional com lança longa sobrecarrega a estrutura que a sustenta pelo aumento do peso próprio do equipamento. Esse tipo de grua também exige maior cuidado de impermeabilização. Muitas vezes, a janela em que é implantada atravessa o local onde será executada a caixa d'água. Nesse ponto, haverá concreto com idades diferentes e cuidados de compatibilização e impermeabilização são importantes para evitar vazamentos.

·      Fixa

®  Características

Posicionada no lado externo da edificação, deve ser presa ao corpo do edifício. Para desmontar, deve haver espaço no canteiro para que toda a lança fique no chão após a retirada das peças da estrutura.

®  Vantagens

Se comparada às ascensionais, pode ter maior capacidade de carga e tamanho de lança, além de não interferir no andamento da obra nas lajes. Também pode ser colocada entre duas torres para atender as ambas em empreendimentos com mais de uma edificação.

®  Desvantagens

Por causa da relação entre peso e altura, necessita de fundação própria. Dependendo do tamanho da lança, há mais risco de interferir nos imóveis vizinhos. A carga horizontal provocada pelo estaiamento ou fixação da torre no prédio não pode ser desconsiderada pelo calculista. Por fim, tem custo médio mais alto que as ascensionais, já que possui mais peças.

·      Móvel

®  Características

A torre desloca-se sobre rodas apoiadas em trilhos. A pequena "ferrovia" deve ser convenientemente ancorada no solo.

®  Vantagens

Pode atender a diversos edifícios em condomínios com várias torres, como em conjuntos habitacionais.

®  Desvantagens

Como não possui estaiamento, nem é presa no corpo dos edifícios, tem altura limitada.

Utilização das gruas

Caso a construtora defina o uso da grua, deve informar o calculista. Essa necessidade se deve às cargas que esses equipamentos transmitem ao corpo da estrutura. Uma grua ascensional pesa, em média, 25 t. No caso de gruas com torres fixas, prendê-las às lajes resulta em um aumento de cargas horizontais. Não são raros os casos de necessidade de reforço – mesmo que temporário – da estrutura.

O consumo de energia também deve ser analisado. Cada grua consome, em média, 35 kVA/h. Por isso, o uso de duas gruas na mesma obra pode aproximar a demanda de energia do limite máximo de entrada instalada pela concessionária. Nesses casos, a construtora deve avisar previamente a concessionária e fazer outra entrada, do tipo estaleiro.

A última questão gerencial a se considerar é a contratação da mão de obra. Alguns empreiteiros fazem o preço pela metragem do empreendimento, desconsiderando que uma grua reduz a quantidade de trabalhadores no canteiro. Os benefícios financeiros obtidos com a redução da mão de obra vão direto à empresa subcontratada. É contraditório buscar um sistema pela economia com mão de obra e repassar os ganhos.

Com o projeto de canteiro definido, já há subsídios para a especificação adequada do equipamento. Em geral, é analisada a capacidade de carga e o comprimento da lança. No Brasil, as gruas mais usadas em obras de edificação têm momento máximo de 360 t.m e lanças que variam entre 20 e 60 m.

As duas características estão interligadas. Um dos fatores que compõe o cálculo da capacidade de carga é o momento, resultado da multiplicação da capacidade de carga pela distância da ponta da lança ao eixo central (a torre). Por isso, uma grua pode erguer materiais mais pesados nas partes mais próximas da torre. No entanto, a capacidade de carga também pode ser condicionada pela resistência do conjunto polia-cabo. Os locadores e fabricantes devem fornecer manuais técnicos que mostram a capacidade do equipamento em cada situação.
___________________________________________________________________

Assista a esse documentário bastante interessante sobre as gruas, exibido pela History Channel, pelo programa Modern Marvels (Maravilhas Modernas).